sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Travessia Lençóis - Capão - Vale do Paty (Parque Nacional da Chapada Diamantina) - Set/11


Natal – Salvador – Lençóis (25/9)


Saí de Natal (RN) no vôo 1804, depois de passar alguns dias na casa de meus amigos Gabi e Junior. O vôo saiu no horário, às 4h25, e chegou em Salvador às 5h42. Minha preocupação era o vôo atrasar a chegada ou a entrega de bagagem, já que eu havia comprado a passagem para Lençóis (BA) em São Paulo, para o horário das 7h na rodoviária. Tudo correu bem, e eu saí com mochila e tudo por volta das 6h10, pagando abusivos R$ 84 por um táxi de cooperativa até o terminal de ônibus.

A rodoviária de Salvador é bem ajeitada e organizada, como boas opções de serviços. Corri no guichê da Real Expresso e comprei a taxa de embarque por R$ 1,20. Logo estava embarcando e saindo em direção a Lençóis.


Fizemos uma parada em Feira de Santana (BA), velha conhecida de outra trip, e depois uma parada técnica em uma cidade chamada Itaberaba (BA), parada esta um pouco mais longa para comermos alguma coisa, por volta das 11h.


O bus tinha ar condicionado, condição básica para se andar pelo sertão baiano e seu sol escaldante. Enquanto o veículo rasgava as estradas por aquelas paisagens secas, ficava imaginando como deveria ser a vida do sertanejo ali. Devaneios de um viajante.


Cheguei em Lençois por volta das 14h. Quem vive do turismo e dos turistas já fica ouriçado quando vêem o ônibus chegando. É assim em qualquer lugar que viva da atividade de turismo, e Lençóis é considerada o portão de entrada da Chapada Diamantina. Fui abordado por um monte de gente oferecendo hospedagem, e como não tinha nada determinado, comecei a ouvir as propostas. Um rapaz chamado Batalha me convenceu a dar uma olhada na Pousada Daime Sono (Rua das Pedras, 102. Tel.: 75 3334-1445. www.pousadadaimesono.com.br), um lugar muito agradável cujos proprietários, Patrícia e Rodrigo, são gente boa demais. Acabei acertando com eles minha permanência ali.


Travessia Lençóis – Capão (Caeté-Açu) - (29/9)

Acordei às 6h da manhã, já com tudo previamente preparado para a travessia até o Vale do Capão. Às 7h15 saí da Pousada Daime Sono, em direção a hotel Portal de Lençóis, local de onde parte a trilha. Subi rapidamente, alcançando a saída da cidade.

A trilha começa alternando entre um caminho bem batido e lajedos, onde a indicação do caminho é a parte mais desgastada na rocha. Vão se alternando subidas e descidas, enquanto bordejo a Serra do Grisante.


A trilha vai seguindo até cruzar um riachinho e logo adiante mais um lajedo. Subindo este lajedo encontramos uma cachoeirinha (cachoeirinha?!), nesta época com pouca água devido à estiagem. A trilha segue ao lado direito, e cerca de 20 metros depois bifurca em um T. O correto é pegar à esquerda, subindo assim para a Serra do Ribeirão. Este é um momento duro, pois a trilha está fechada e há um momento que é preciso descer um degrau, mas a visão da trilha fica prejudicada. Acabei caindo nesse degrau justamente em cima de uma touceira de capim-bravo, o que me rendeu belos e ardidos cortes nos braços e nas mãos! A trilha reaparece alguns metros à frente, com vários lajedos novamente, mas com algumas setas rabiscadas na pedra, o que facilita a orientação.


Às 9h30 já tinha superado a Serra do Ribeirão e seguia firme para a serra seguinte, chamada do Sobradinho. À esquerda da trilha fica o vale e o paredão da Serra do Sobradinho, belíssimo. Às vezes a trilha parece um jardim, com as flores da Chapada dando o tom e colorindo o caminho. Encontrei um dos bons pontos de camping às 10h15, dei uma descansada, e continuei seguindo. Por volta das 11h30 parei para fazer um lanche. Infelizmente nesta época as águas estão em um nível bastante baixo, e o volume dos rios diminui dramaticamente. Cruzo o Rio Ribeirão no fundo do vale e sigo por uma trilha bem clara até uma espécie de gruta, onde a trilha continua até dar de novo no rio. Mas o caminho não era este: eu deveria ter saído à esquerda uns 20 metros antes. Por sorte tinha uma galera local se banhando no rio que me indicou o ponto certo. Acelerei a pisada e às 12h20 parei para almoçar à beira de um outro rio.


Já com a fome morta segui, avistando a figura imponente do Morrão (ou Morro do Tabor) com sua topografia única, que se assemelha à figura da Esfinge do Cairo! Fiquei hipnotizado com aquela visão, sem dúvida uma das paisagens mais impressionantes que eu já vi. A Chapada é abençoada neste sentido.


Bordejei o trechinho final da Serra do Sobradinho e comecei a descida para Caeté-Açu, à sudoeste. A trilha desce com razoável vontade, até encontrar um rio; passado esse rio o caminho segue, alternando subidas e descidas leves. Em dado momento a trilha se encontra com uma estrada vicinal, e a partir daí a pernada se torna um pouco monótona. Cruzei mais um riacho, passei por alguns sítios e às 15h cheguei à entrada da cidade, onde um francês (Laurent) estava perdido olhando para as montanhas (!!). Me disse que pegou 25 horas de ônibus para ficar um dia e meio no Capão, e depois voltaria para Recife (PE). Doideira.


Chegando ao vilarejo do Capão (também conhecida como Caeté-Açu), acabei ficando em uma pousada chamada Tatu Feliz (Praça da Vila, s/n. Tel.: 75 3341 1124. www.infochapada.com/pousadatatufeliz.htm), R$50 por um quarto muito confortável.


De noite fui procurar um lugar para comer, e encontrei o restaurante (na verdade, a casa) de dona Belí. Um PF maravilhoso por R$8. Depois fiquei trocando idéias com os malucos e trilheiros de plantão em um boteco pé-sujo na pracinha da vila.




A cidade de Lençóis vista da trilha que leva ao Capão 


Parada providencial para uma refrescada no ribeirão

Uma pequena cachoeira, sem muita água

Uma bela formação rochosa da Serra do Ribeirão

Flores da Chapada Diamantina

Serra do Ribeirão

Cruzando mais um ribeirão

Dando uma pausa antes de seguir. Á frente, logo chegaria o Morrão

Morrão ou Morro do Tabor, uma das formações mais interessantes da Chapada

Rio pedregoso antes de chegar ao Capão

Montanha bonita perto do vilarejo do Capão

Mais uma serra espetacular no caminho para Capão
Laurent, o francês maluco que viajou 25 horas desde o Recife para ficar 24 horas no Capão!

 Caeté-Açu até Cachoeira da Fumaça – (30/9/2011)
Acordei cedo, por volta das 7h da manhã, com a intenção de ir até a Cachoeira da Fumaça, mesmo sabendo que ela estava quase seca. Tomei café na pousada e por volta das 8h50 já estava na empoeirada estrada que leva até a localidade chamada Campos, cerca de 2 km do centro de Caeté-Açu. Chegando até Campos, imediatamente após a antena da Telemar, deve-se tomar à direita e seguir 200 metros até a Associação de Guias, que faz um “controle de fluxo” e pede donativos para continuar o trabalho de conservação das trilhas (conservar as trilhas dentro do Parque Nacional? Falou... ;-/).

A subida até o platô da Serra da Larguinha, caminho para a Fumaça, é penosa para pernas desacostumadas. O visual que vai se descortinando nesta subida é incrível: à direita, o Morrão; à esquerda, o Vale do Capão; à frente, a Serra da Candoba.

Terminada a subida, caminha-se por cerca de 1h30, sempre reto, alternando lajedos, trilhas arenosas e macegas (vegetação rasteira). Logo é possível perceber que o Cânion da Fumaça se aproxima, e então é hora de pegar o caminho à esquerda, descendo até o leito do rio que forma a cachoeira. Nesta época do ano o rio está quase seco, o que possibilitou que eu fotografasse a partir do próprio leito, coisa impensável uns meses antes! Subi até o mirante onde é possível ver a cachoeira em tempos de cheia, e a visão da altura da cachoeira deixa a boca seca: 380 metros que aceleram a pulsação. Foi difícil controlar a paúra. Fiquei um tempo ali, admirando e eventualmente conversando com quem chegava (um trio masculino e um casal, todos de MG), dividindo aquele sentimento de êxtase e um certo assombro.
Iniciei a volta com aquela visão na cabeça. Estava tão absorto que nem percebi direito o caminho, e logo estava na beira do platô, pronto para descer de volta a Caeté-Açu.

Descendo encontrei o casal que já havia conversado antes lá na Fumaça, mais o dono de uma lanchonete que fica na parte baixa da trilha. Ele sobe com as guloseimas e água, e fica vendendo ali, na descida da trilha. Parei um pouco e ficamos conversando. Nessas eu recebi umas dicas boas do casal mineiro para quando eu for fazer a travessia do Vale do Paty.

Terminei a descida e comi o famoso pastel de palmito de jaca, uma verdadeira delicia. Ainda mais quando acompanhado pelo caldo de cana fresquinho, tirado na hora. Putz! Fui apresentado a um nível superior do binômio “pastel - caldo de cana”!!
Voltei para a vila e tirei um sono até o cair da tarde. Internet, um PF na casa de Dona Belí novamente, e logo estava preparando as coisas para partir. Amanhã sigo para o Vale do Paty.


No começo da trilha, palavras sábias

Caminhando para a Cachoeira da Fumaça

Vista do vilarejo do Capão

Serra do Macaco

Serra do Macaco

Chegando na Cachoeira, pelo leito do rio que a forma

Cachoeira da Fumaça, infelizmente bem seca nessa época

Leito do rio que forma a Cachoeira da Fumaça


Travessia do Paty – (1/10/2011)

Acordei cedo e fui tomar um café antes de pegar o mototáxi (R$12) até a localidade do Bomba, distante 6 km de Caeté-Açu. O tempo nublado me deixou apreensivo, ma me pus a andar em direção à subida que me levaria até a entrada dos Gerais dos Vieiras, onde subiria até o topo da serra, para seguir até o Vale do Paty. A caminhada seria de mais de 20 km.

A subida do vilarejo do Bomba até o planalto ocorreu em meio a um denso nevoeiro. Encontrei uma bifurcação e mantive a direita. O vento e a cerração não davam trégua. De repente, tudo abriu e foi possível ver a Serra do Esbarrancado bem à minha direita. Cruzo o Rio Ancorado e sigo em frente entre subidas e descidas leves, e logo identifico um riacho e o Morro Manoel Vitor à minha esquerda. A idéia era subir à direita e encontrar a trilha para a subida do Quebra Bunda, mas acabei passando do ponto porque a trilha dá uma sumida em determinado momento. Conforme ia me distanciando da Serra do Esbarrancado (e da subida do Quebra Bunda) percebi que algo estava errado e voltei ao mesmo riacho que havia passado, onde farejei a trilha que levava para o alto da serra. Chegando lá em cima, uma visão espetacular do vale me fez dar uma parada e apreciar durante uns 15 minutos.

Uma vez no alto da serra fui caminhando em um ritmo forte, entremeada com paradas para fotos e água. Imagens lindas do Morro Branco, Morro da Lapinha e Serra da Rampa (em frente), e da Serra do Roncador à esquerda (leste).
Segui em frente até encontrar um muro de pedra. Ali sabia que deveria começar a descer pela rampa, fato confirmado por um casal carioca e o guia deles, vindos da comunidade de Guiné. Enquanto conversávamos, passou por nós uma nuvem de abelhas (!!), o que nos obrigou a ficarmos deitados no chão um tempo.

Logo em seguida comecei a descida da rampa: bem íngreme, qualquer descuido ali e você só pára de rolar lá embaixo! Quando cheguei na parte de baixo, peguei o caminho da Igrejinha, lugar onde vive João Calixto, sozinho naquele vale imenso. Ficamos proseando um bom tempo, e falamos de muitas coisas; no fim acabei presenteando ele com um relógio de pulso Orient automático, que levei exatamente para esse fim mesmo. Fiquei feliz em ter conhecido João Calixto.

Segui rumo até a casa do Sr. Wilson, local onde eu pousaria naquela noite. O Sr. Wilson e família são aquele tipo de gente generosa, que nos recebe de coração aberto e com uma prosa muito boa, a despeito dos R$60 cobrados pela cama, jantar e café da manhã. Preço mais que justo pela fartura de comida, doces, sucos e afins, que são servidos fresquinhos. Até suco de pitanga eu tomei, uma delícia!

Nesta noite eu conheci um casal, Telma e Tiziano. Ela alagoana, ele um velho italiano. Gente boa, ficamos conversando bastante, até que a caminhada cobrou seu preço e o cansaço bateu. Eram 20h40, e poucas vezes na minha vida adulta (ou até mesmo quando criança) dormi a essa hora. Mas dormi feliz, saciado de corpo e alma. Amanhã sigo pelo Paty.

Começando a travessia no vilarejo do Bomba


Visão do alto do planalto

Seguindo pela trilha, já começam a aparecer as formações rochosas que fazem dessa travessia uma das mais bonitas do Brasil

Morro Branco

Na igrejinha, onde é possível acampar por preços módicos

João Calixto, o morador da Igrejinha: figuraça! 

Morro Branco em tons sépia

Vale do Rio Paty

Telma e Tiziano: casal aventureiro na Chapada Diamantina
 Travessia do Paty – 2° dia – (2/10/2011)


Acordei cedo mais uma vez. Meus planos incluíam visitar a Cachoeira dos Funis, e depois seguir viagem, talvez até o Cachoeirão.
Café da manhã, mais uma vez aquela fartura sertaneja: frutas, bolos, sucos. Inacreditável a quantidade de comida disponível! Comi bem, conversei mais um pouco com o casal ítalo-alagoano, arrumei as coisas e segui para a Cachoeira dos Funis. Me despedi do casal, que seguia de volta para Guiné, e comecei o caminho para a cachoeira. Em 20 minutos cheguei à base dela, meio seca. Tirei fotos e voltei.

Preparei a mochila, paguei a estadia para o Sr. Wilson e segui caminho, descendo pelo vale do Paty. As formações rochosas são simplesmente lindas, e o rio mantem-se à sua esquerda, um pouco abaixo do nível da trilha. Passo pela “Prefeitura” (antigo prédio abandonado), parada rápida e continuo a pernada até encontrar de súbito a ponte sobre o Rio Paty. Cansado e suado, com todo direito e pompa parei para um banho e almoço. Eram 13h25. O sol brilhava forte, o Paty convidativo, fiquei ali um bom tempo. Afinal era cedo e eu não iria ver o Cachoeirão (está seca nesta época), restando ficar na casa de Dona Linda, a 100 metros da ponte. Após o merecido descanso, segui até a casa de Dona Linda, para descobrir que ela e a família tinham ido para Andaraí (BA) (hoje é domingo, dia da feira semanal). Resolvi seguir para a casa do Sr. Eduardo, no caminho para o Cachoeirão, quando cruzo com o Sr. Antonio, dono de uma casa também no caminho para a cachoeira gigante. Conversando com ele descobri que o Sr. Eduardo faleceu, e como o próprio Sr. Antonio acolhe viajantes também, resolvi ficar por ali mesmo. O preço é o mesmo do Sr. Wilson. A família dele me recebeu muito bem: Dona Dagmar (a esposa) e o filho do casal, Adauto. Um jantar simples, mas fenomenal: suco de limão cravo, arroz, ovos...até godó a Dona Dagmar preparou para mim. A hospitalidade do povo do Paty é espetacular. 

Amanhã sigo para Andaraí, trecho final da travessia.  



Cachoeira do Funil

Sr. Wilson, morador da Chapada e dono de uma pousadinha simples e acolhedora

Margeando o rio Paty

O cânion que o rio Paty forma é bem alto!

Essa ponte foi destruída um ano antes devido às cheias do rio Paty! Imagine a força das águas...

Aproveitando para um banho refrescante no Rio Paty

Adauto, Sr. Antonio e dona Dagmar, moradores da Chapada

Travessia do Paty – 3° dia – (3/10/2011)

Acordei com o canto dos galos que o Sr. Antônio cria em seu quintal. Dormi bem à noite, só fiquei um pouco ressabiado quando senti o cheiro de madeira queimada em determinado momento, mas não era incêndio: era a Dona Dagmar acendendo o seu fogão a lenha.

Por volta das 8h, depois de um café da manhã bem sertanejo, paguei a minha estadia junto àquela família simpática e acolhedora. A hospitalidade do povo da Chapada Diamantina é o seu verdadeiro patrimônio!

Atravessei o rio Paty pulando de pedra em pedra, em um movimento que seria impossível de se fazer na época de chuvas, já que o Paty fica largo e "nervoso". Achei a trilha que me levaria até a Subida do Império, íngreme até se perder de vista, um ziguezague quase interminável. O calçamento é em estilo “pé-de-moleque”, o que caracteriza essa trilha como um antigo caminho oficial para se cruzar aquela região. Em determinado momento avisto uma casa muito bem construída no meio da mata ciliar do rio Paty. Fiquei sabendo depois que é a casa de um milionário alemão, que chegou por ali há alguns anos. O problema é que ali é área de parque nacional! Coisas do Brasil...

A chegada ao topo da Subida do Império é coroada com uma imagem belíssima de todo o vale do Paty. Olhando por onde passei, me bateu certa melancolia. Foram dias realmente especiais por essas paisagens incríveis.

Segui em frente, decidido a chegar a Andaraí na hora do almoço. A temperatura amena da manhã foi dando lugar a um calor insuportável com o passar das horas, e só me restava tentar me refrescar em algumas eventuais bicas d água que apareciam vez ou outra pela trilha. Nesta hora do dia é muito comum cruzar com calangos aquecendo seu corpo de sangue frio nas pedras quentes. Perdi a conta de quantos eu vi.

Quando avistei Andaraí pela primeira vez, no alto da serra ainda, sabia que tinha acabado minha trip. Andei mais duas horas debaixo de um sol escaldante, com um sentimento misturado entre a satisfação de realizar uma travessia riquíssima, e a vontade de esticar mais esses dias em que passei por ali. Mas prevaleceu na verdade a sensação de dever cumprido.

Nas cercanias de Andaraí avisto uma réplica do Cristo de braços abertos me dá as boas-vindas. Andaraí me pareceu uma cidade bem movimentada, em alguns momentos até muvucada em excesso. Chegando ao centro, encontrei uma feira bem ao estilo nordestino, com todo tipo de produtos, e um movimento quase idêntico a da rua 25 de Março, em São Paulo. Doideira!!


Procurei informações sobre transporte de volta à Lençois, e teria que esperar cerca de uma hora até a chegada do bus que me levaria de volta ao meu ponto de partida, cinco dias atrás. Enquanto esperava o ônibus, já fazia planos para futuras incursões na Chapada Diamantina. Foi ali que me dei conta realmente do quanto aquele lugar marcou meu coração e minha alma. Em breve eu volto. 



Subida do Império, a temida

A Subida do Império e seu calçamento feito por escravos

Riacho no caminho para Andaraí
Andaraí, a cerca de dois quilômetros de distancia

Andaraí

Parque Nacional de Jericoacoara: trekking, sol e diversão - Set/11


De Fortaleza a Jeri (15/9)

Jericoacoara, ou simplesmente Jeri, é um daqueles lugares que você começa a ouvir desde muito cedo quando o assunto é beleza cênica e praias paradisíacas. Desde que foi eleita, há alguns anos atrás, como uma das dez praias mais encantadoras do mundo por um jornal norte-americano, esta pacata vila de pescadores deixou a tranqüilidade de lado para se tornar seguramente o local turístico mais conhecido do Estado do Ceará. Fui para lá para checar como andam as coisas, e para cumprir mais uma etapa do meu projeto de visitar todos os parques nacionais do Brasil (sim, Jeri é um parque nacional!).

 Acordei por volta das 4h40 da manhã, tomei uma ducha e peguei a “topic” para Fortaleza (R$ 3,50). Ás 6h00 já estava no centro de Fortaleza, a essa hora totalmente vazio não fosse a presença de poucos  ambulantes montando suas barracas e as tradicionais almas perdidas que todo centro de cidade grande abriga.

No dia anterior havia comprado um pacote no Mercado Central, que me dava o direito de transporte e três dias de hospedagem. Era a opção mais barata, depois de exaustivos estudos da minha parte, e acabei pagando R$ 250. Minha ideia era ficar mais dois dias por minha conta, e fazer uma exploração mais ao meu estilo, ou seja, totalmente off turismo convencional.

Fui até o Mercado Central, ponto de encontro que a operadora determinou, e resolvi tomar um café. O Mercado estava fechado ainda, e o movimento na parte de fora era intenso, com uma feirinha de ambulantes lotada de gente. Saí caminhando descendo a avenida, e foi aí que encontrei um daqueles lugares pitorescos que só viajantes livres se permitem. O lugar é o Bar da Lôra. A “lôra” em questão é a dona do bar, uma mulher simpática e muito divertida. Além do bom papo, faz um pão com ovo frito divino. O bar estava lotado, principalmente pela galera da feirinha da madrugada que eu havia passado havia pouco, onde você pode encontrar de tudo. É um exercício de observação acompanhar esse comércio alucinado que rola nas primeiras horas da manhã naquele local.

O microônibus da empresa chegou ás 9h00. Isso significa dizer que o cansaço me pegou  assim que subi a bordo.  A viagem total durou cinco horas, com uma parada para “hidratação” (o calor lá chega a ser desumano, mesmo com ar condicionado). Temos um guia que parece ser gente boa, chamado Roberto.

Chegamos a Jijoca e tivemos esperar um pouco ali até a caminhonete D20 chegar para finalizar nossa ida a Jericoacoara. Praticamente impossível chegar lá com outro veículo que não um 4x4. O caminho entre Jijoca e Jeri é algo difícil de esquecer: dunas e mais dunas entremeadas por pequenas lagoas de água verde. A mesma topografia e composição cênica dos Lençóis Maranhenses (MA) que, aliás, não estão tão distantes daqui.

Chegando a Jeri definitivamente, fui acomodado na Pousada Rosas dos Ventos (Travessa Ricardo, 202. Tel.: 88 3669 2092), muito aconchegante, e depois de uma chuveirada gelada que aliviou muito pouco o calor escaldante, fui almoçar no restaurante Sabor da Terra (Rua Principal), por indicação quase obrigatória do guia Roberto. Dei uma chance e não me arrependi: comi um peixe incrivelmente saboroso lá.

Na seqüência resolvi dar um rolê, aproveitar que estava um pouco mais fresco, e também para tirar esse cansaço do corpo. Resolvi ir até um monumento muito conhecido aqui, a famosa Pedra Furada, marco do Parque Nacional de Jericoacoara. Quando me dirigia para a trilha que me levaria até lá acabei encontrando um casal montanhista amigo meu, Rodrigo e Roberta. O mundo é pequeno mesmo...

Fui caminhando até a Pedra Furada, um caminho entre morrotes e areia da praia. Em meia hora cheguei lá, e já havia algumas pessoas fazendo fotos. É tipo um arco natural, erodido pelas ondas, interessante se olhado mais de cima do morro, como eu fiz. Aproveitei e fiz algumas fotos do horizonte ao sul e ao norte, além do pôr-do-sol espetacular, um dos mais bonitos que eu já acompanhei.

Na volta à vila me dediquei aos esportes etílicos, afinal de contas o calor por aqui é constante, mesmo à noite.

Amanhã tem mais.

Dicas: Ir pelo esquema independente para Jeri te obriga a pagar um preço alto por isso, além de ser praticamente impossível você fazer sozinho de Jijoca a Jeri. A pé são 18 km de distancia, de carro comum é atolar na certa. Contratando um pacote básico você consegue economizar bem. Poucas vezes vi vantagem em contratar um pacote como em Jeri...


Explicando Jeri

Capela na vila

Barcos, mar, ventos e duna: isso é Jeri

Subindo a duna para ver o pôr-do-sol. É tradição

Galera vendo o pôr-do-sol


Indo em direção à Pedra Furada, ícone do Parque Nacional de Jericoacoara

Placa: sim, Jeri é um parque nacional

Pedra Furada. Legal.

Pedra Furada

Pedra Furada vista do alto


Jericoacoara – 2º dia (16/9)

No dia seguinte, resolvi fazer um passeio de bugue e conhecer alguns locais mais distante, como a Lagoa da Tatajuba. Para isso contratei com o próprio  guia Roberto esse passeio. Por volta das 9h00 saí da pousada e fui pego pelo piloto do buguinho, um rapaz meio marrento cujo nome não me recordo (não anotei). Junto comigo vieram um casal paraense, ambos médicos. Gente muito boa.

A primeira parada foi ás margens do Rio Guriú. Ali havia um tal observação de cavalos marinhos na região do mangue, aquele tipo de passeio bem pra turista bobinho, e que ainda impacta a natureza, já que o bichinho é pego numa garrafa. Era demais para mim, e graças a Deus , para o casal paraense também. Resolvemos seguir em frente.

Passamos então a ir em direção ao que restou da vila de Tatajuba. O piloto parou em um casebre, onde paramos para comprar uma água, ou algo que o valha. Foi nesse local que rolou uma apresentação insólita, um resumo do que aconteceu com a vila de Tatajuba original, engolida pelas areias. Uma história de mais de três décadas contada em dois minutos, em velocidade máxima por uma senhora, a dona do tal casebre. É muito curioso e engraçado.

No meio do caminho, apareciam várias lagoas de água doce no meio das dunas. Em muitas vezes eu me imaginei nos Lençois Maranhenses, uma paisagem realmente muito bonita.

Finalmente chegamos à Lagoa da Tatajuba. Bonita, com um vento que não para um instante, é basicamente uma base para colocar os turistas e  mantê-los ali, comprando, bebendo e comendo. Como eu tinha desligado meu modo viajante descolado, resolvi relaxar e pagar de turista mesmo. Ficamos eu e o casal paraense tomando umas lá, e batendo papo. Ficamos lá tempo suficiente, na visão do guia, ou seja, quando ele ficou de saco cheio, nos chamou para irmos embora. Mas valeu muito a pena, o local é legal e a comida estava boa.

Voltei para a pousada e dei uma descansada, a noite me dediquei um pouco mais ao nobre esporte etílico, e ao contato social que isso provoca. A cerveja é a melhor amiga do homem.


Cruzando o Rio Guriú
Casebre na aldeia de Tatajuba. A aldeia foi engolida pelas areias

Uma das lagoas da região de Tatajuba

Lagoa de Tatajuba

Jericoacoara – 3º dia (17/9)
Neste dia, pelo contrato com a operadora, eu deveria ter ido embora. Faria um passeio pela manhã, almoço e depois seguiria para Fortaleza. Mas fiz um acerto com o guia Roberto e ficou fechado que eu pegaria o micro daqui a dois dias. Paguei a pousada por fora (mais R$ 120) e estava definido: mais dois dias em Jeri.
Fui com o grupo (que eu havia vindo desde Fortaleza) até a Lagoa Azul, um lugar difícil de descrever sem comparar com o Caribe, ou algum lugar de águas cristalinas. No meio dessa lagoa existe  um banco de areia branca, que é usado como base para o bar molhado. Os preços são turísticos, mas tudo bem, afinal eu estou nessa, não?
Estava muito agradável ali, eu realmente estava curtindo. E o melhor, não precisava ir embora, como os colegas de viagem. Quando o guia chamou (eram 13h00, absurdo!) o pessoal foi meio amuado. Eu sorri. Dentro desse esquema, eu estava com uma certa mobilidade. Beleza!
Fiquei ali curtindo mais algumas horas, e hordas de turistas vinham e iam. Lá pelas 16h00 resolvi voltar. Já sabia que teria de me virar para voltar a Jeri. Estava a cerca de 20 km de lá, mas tinha algumas opções, como cortar caminho pelas dunas e fazer em 10 km, ou pegar carona se chegasse à Praia do Preá (7 km). Escolhi esta última opção, e depois de sair do banco de areia em uma jangada, peguei a poeirenta estrada de areia até a praia. O legal é que eu andei 3 km e um bugueiro me ofereceu carona até Jeri, foi bem legal e mais rápido do que eu imaginava.
Quando voltei, resolvi subir até a Duna do Pôr-do-Sol ver o danado do fenômeno, que aqui é muito lindo. Encontrei de novo o casal de amigos montanhistas Rodrigo e Roberta, e ali ficamos até o fim do crepúsculo. Ao final, todos batem palmas, é tradição em Jeri, e realmente muito justo, porque ali é especial.
Nesta noite eu e o casal R fomos a uma pizzaria que tinha musica ao vivo, bem legal.

Árvore torta, pelo vento constante que não pára em Jeri

Às margens da Lagoa Azul, esperando a jangada para ir até uma ilha de areia branca, no meio dela

Lagoa Azul: águas cristalinas, caribenhas, fantásticas!

Só tirando onda na Lagoa Azul

A jangada que me trouxe da ilha de areia. Agora, era caminhar muito até Jeri, ou descolar carona!

Pois é, eu consegui carona!
Jericoacoara – 4º dia (18/9)

Dia seguinte, céu azul, e eu decidido a fazer um trekking. Resolvi tentar inventar um caminho: chegar à vila do Guriú, mas passando por um povoado chamado Mangue Seco. E lá fui eu.

A caminhada pela praia até Guriú é de 9 km, mas pelo vilarejo seria de 14 km. O sol escaldante e o vento incansável, que trazia areia e fazia doer as minhas pernas, eram desgastantes. Logo cheguei a uma placa, que indicava Mangue Seco a 1,5 km. Percebi que estava chegando aos limites do Parque Nacional. Minhas suspeitas se confirmaram quando cruzei com uma guarita do ICMBio (vazia, claro) e uma placa, no sentido no contrário do qual eu vinha, explicava sobre a unidade de conservação. Ali pude ver que estava no caminho certo, e mais perto do que eu supunha. Segui, entrando por uma região de mangue, e passei por uma ponte de madeira, onde pude avistar alguns queixadas (porcos do mato) chafurdando na lama escura. Continuei seguindo, pegando infos aqui e acolá, até que cheguei a uma vila, com um canal à frente. Ia atravessar, quando um morador me alertou da profundidade excessiva ali. As pessoas atravessam a nado, mas eu estava com mochila de ataque, e não queria molhar meus documentos (não estavam isolados). Procurei alguém para atravessar com canoa, mas não havia ninguém ali. Um pouco frustrado, e faltando um quilômetro segundo o morador, desisti da travessia. Voltei pela praia para Jeri.

Fiquei um tempo observando a galera do kite surf e suas manobras  aéreas, me deu vontade de fazer um curso. Perguntei para um dos caras ali quanto custava o curso, ou algumas aulas, e ele me disse que em torno de R$ 800. Fica para a próxima...

Já em Jeri, voltei para a pousada e fui descansar um pouco. Amanhã estarei indo embora.


Dunas brancas, muito vento e sol, muito sol!

Meu objetivo era ir para Mangue Seco

Embaixo dessa ponte havia uma vara (coletivo de porcos) de queixadas, chafurdando na lama. 

Um pássaro se refrescando

Placa bem didática...

Essa placa aqui é show! Por ela dá pra perceber que eu estava bem próximo de Guriú!

Guarita vazia no Parque Nacional de Jeri

Voltando da tentaiva de trekking, me deparei com a galera do kite surf treinando. Vento é o que não falta aqui!
Jericoacoara – 5º dia (19/9)

Acordei cedo, já sabia que o guia da agencia passaria logo pela manhã para realizar o tal passeio final, a Lagoa do Paraíso. Às 11h15 o guia passou na pousada em que eu estava. Me despedi dos donos, gente finíssima, e entrei na D20 que nos levou (eu e mais uma turma que foi pega na Rua do Forró) para a Lagoa do Paraíso. O lugar é incrível, é a mesma lagoa que em outro lugar é chamada de Azul (e que eu havia estado dois dias antes), só que recebe este nome por estar dentro de uma área particular. Fiquei ali de bobeira, comendo peixe e tomando uma gelada, desfrutando daquela paisagem deslumbrante. Às 13h chegou o nosso transporte, que nos levaria até Jijoca, e dali até Fortaleza. Minha trip pelo Parque Nacional de Jericoacoara terminava ali, entre dunas e lagoas, caminhadas e mergulhos, pores-do-sol espetaculares e a sensação de ter conhecido um cantinho muito especial neste Brasil.


Chegando à Lagoa do Paraíso: de encher os olhos

As redes ficam dentro dagua, para relaxar mesmo

Puta visual. Um final de trip muito digno!

Tem um tablado para tomar sol

Aquele almoço show para fechar com chave de ouro

Eu volto!