De Fortaleza
a Jeri (15/9)
Jericoacoara, ou simplesmente Jeri, é um daqueles lugares que você
começa a ouvir desde muito cedo quando o assunto é beleza cênica e praias
paradisíacas. Desde que foi eleita, há alguns anos atrás, como uma das dez
praias mais encantadoras do mundo por um jornal norte-americano, esta pacata
vila de pescadores deixou a tranqüilidade de lado para se tornar seguramente o
local turístico mais conhecido do Estado do Ceará. Fui para lá para checar como
andam as coisas, e para cumprir mais uma etapa do meu projeto de visitar todos
os parques nacionais do Brasil (sim, Jeri é um parque nacional!).
Acordei por volta das 4h40 da manhã, tomei uma ducha e
peguei a “topic” para Fortaleza (R$ 3,50). Ás 6h00 já estava no centro de
Fortaleza, a essa hora totalmente vazio não fosse a presença de poucos ambulantes montando suas barracas e as
tradicionais almas perdidas que todo centro de cidade grande abriga.
No dia anterior havia comprado um pacote no Mercado Central, que
me dava o direito de transporte e três dias de hospedagem. Era a opção mais
barata, depois de exaustivos estudos da minha parte, e acabei pagando R$ 250.
Minha ideia era ficar mais dois dias por minha conta, e fazer uma exploração
mais ao meu estilo, ou seja, totalmente off
turismo convencional.
Fui até o Mercado Central, ponto de encontro que a operadora
determinou, e resolvi tomar um café. O Mercado estava fechado ainda, e o
movimento na parte de fora era intenso, com uma feirinha de ambulantes lotada
de gente. Saí caminhando descendo a avenida, e foi aí que encontrei um daqueles
lugares pitorescos que só viajantes livres se permitem. O lugar é o Bar da Lôra. A “lôra” em
questão é a dona do bar, uma mulher simpática e muito divertida. Além do bom
papo, faz um pão com ovo frito divino. O bar estava lotado, principalmente pela
galera da feirinha da madrugada que eu havia passado havia pouco, onde você
pode encontrar de tudo. É um exercício de observação acompanhar esse comércio
alucinado que rola nas primeiras horas da manhã naquele local.
O microônibus da empresa chegou ás 9h00. Isso significa dizer que
o cansaço me pegou assim
que subi a bordo. A viagem
total durou cinco horas, com uma parada para “hidratação” (o calor lá chega a
ser desumano, mesmo com ar condicionado). Temos um guia que parece ser gente
boa, chamado Roberto.
Chegamos a Jijoca e tivemos esperar um pouco ali até a caminhonete
D20 chegar para finalizar nossa ida a Jericoacoara. Praticamente impossível
chegar lá com outro veículo que não um 4x4. O caminho entre Jijoca e Jeri é
algo difícil de esquecer: dunas e mais dunas entremeadas por pequenas lagoas de
água verde. A mesma topografia e composição cênica dos Lençóis Maranhenses (MA)
que, aliás, não estão tão distantes daqui.
Chegando a Jeri definitivamente, fui acomodado na Pousada Rosas dos Ventos (Travessa Ricardo, 202.
Tel.: 88 3669 2092), muito aconchegante, e depois de uma
chuveirada gelada que aliviou muito pouco o calor escaldante, fui almoçar no
restaurante Sabor da Terra (Rua Principal), por indicação quase obrigatória do
guia Roberto. Dei uma chance e não me arrependi: comi um peixe incrivelmente
saboroso lá.
Na seqüência resolvi dar um rolê, aproveitar que estava um pouco
mais fresco, e também para tirar esse cansaço do corpo. Resolvi ir até um
monumento muito conhecido aqui, a famosa Pedra Furada, marco do Parque Nacional
de Jericoacoara. Quando me dirigia para a trilha que me levaria até lá acabei
encontrando um casal montanhista amigo meu, Rodrigo e Roberta. O mundo é
pequeno mesmo...
Fui caminhando até a Pedra Furada, um caminho entre morrotes e
areia da praia. Em meia hora cheguei lá, e já havia algumas pessoas fazendo
fotos. É tipo um arco natural, erodido pelas ondas, interessante se olhado mais
de cima do morro, como eu fiz. Aproveitei e fiz algumas fotos do horizonte ao
sul e ao norte, além do pôr-do-sol espetacular, um dos mais bonitos que eu já
acompanhei.
Na volta à vila me dediquei aos esportes etílicos, afinal de
contas o calor por aqui é constante, mesmo à noite.
Amanhã tem mais.
Dicas: Ir pelo esquema
independente para Jeri te obriga a pagar um preço alto por isso, além de ser
praticamente impossível você fazer sozinho de Jijoca a Jeri. A pé são 18 km de distancia, de carro
comum é atolar na certa. Contratando um pacote básico você consegue economizar
bem. Poucas vezes vi vantagem em contratar um pacote como em Jeri...
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Explicando Jeri |
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Capela na vila |
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Barcos, mar, ventos e duna: isso é Jeri |
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Subindo a duna para ver o pôr-do-sol. É tradição |
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Galera vendo o pôr-do-sol |
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Indo em direção à Pedra Furada, ícone do Parque Nacional de Jericoacoara |
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Placa: sim, Jeri é um parque nacional |
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Pedra Furada. Legal. |
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Pedra Furada |
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Pedra Furada vista do alto |
Jericoacoara – 2º dia (16/9)
No dia seguinte, resolvi fazer um passeio de bugue e conhecer
alguns locais mais distante, como a Lagoa da Tatajuba. Para isso contratei com
o próprio guia Roberto esse
passeio. Por volta das 9h00 saí da pousada e fui pego pelo piloto do buguinho,
um rapaz meio marrento cujo nome não me recordo (não anotei). Junto comigo
vieram um casal paraense, ambos médicos. Gente muito boa.
A primeira parada foi ás margens do Rio Guriú. Ali havia um tal
observação de cavalos marinhos na região do mangue, aquele tipo de passeio bem
pra turista bobinho, e que ainda impacta a natureza, já que o bichinho é pego
numa garrafa. Era demais para mim, e graças a Deus , para o casal paraense
também. Resolvemos seguir em frente.
Passamos então a ir em direção ao que restou da vila de Tatajuba.
O piloto parou em um casebre, onde paramos para comprar uma água, ou algo que o
valha. Foi nesse local que rolou uma apresentação insólita, um resumo do que
aconteceu com a vila de Tatajuba original, engolida pelas areias. Uma história
de mais de três décadas contada em dois minutos, em velocidade máxima por uma
senhora, a dona do tal casebre. É muito curioso e engraçado.
No meio do caminho, apareciam várias lagoas de água doce no meio
das dunas. Em muitas vezes eu me imaginei nos Lençois Maranhenses, uma paisagem
realmente muito bonita.
Finalmente chegamos à Lagoa da Tatajuba. Bonita, com um vento que
não para um instante, é basicamente uma base para colocar os turistas e mantê-los ali, comprando, bebendo e
comendo. Como eu tinha desligado meu modo viajante descolado, resolvi relaxar e
pagar de turista mesmo. Ficamos eu e o casal paraense tomando umas lá, e
batendo papo. Ficamos lá tempo suficiente, na visão do guia, ou seja, quando
ele ficou de saco cheio, nos chamou para irmos embora. Mas valeu muito a pena,
o local é legal e a comida estava boa.
Voltei para a pousada e dei uma descansada, a noite me dediquei um
pouco mais ao nobre esporte etílico, e ao contato social que isso provoca. A
cerveja é a melhor amiga do homem.
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Cruzando o Rio Guriú |
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Casebre na aldeia de Tatajuba. A aldeia foi engolida pelas areias |
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Uma das lagoas da região de Tatajuba |
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Lagoa de Tatajuba |
Jericoacoara – 3º dia (17/9)
Neste dia, pelo contrato com a operadora, eu deveria ter ido embora. Faria um passeio pela manhã, almoço e depois seguiria para Fortaleza. Mas fiz um acerto com o guia Roberto e ficou fechado que eu pegaria o micro daqui a dois dias. Paguei a pousada por fora (mais R$ 120) e estava definido: mais dois dias em Jeri.
Fui com o grupo (que eu havia vindo desde Fortaleza) até a Lagoa Azul, um lugar difícil de descrever sem comparar com o Caribe, ou algum lugar de águas cristalinas. No meio dessa lagoa existe um banco de areia branca, que é usado como base para o bar molhado. Os preços são turísticos, mas tudo bem, afinal eu estou nessa, não?
Estava muito agradável ali, eu realmente estava curtindo. E o melhor, não precisava ir embora, como os colegas de viagem. Quando o guia chamou (eram 13h00, absurdo!) o pessoal foi meio amuado. Eu sorri. Dentro desse esquema, eu estava com uma certa mobilidade. Beleza!
Fiquei ali curtindo mais algumas horas, e hordas de turistas vinham e iam. Lá pelas 16h00 resolvi voltar. Já sabia que teria de me virar para voltar a Jeri. Estava a cerca de 20 km de lá, mas tinha algumas opções, como cortar caminho pelas dunas e fazer em 10 km, ou pegar carona se chegasse à Praia do Preá (7 km). Escolhi esta última opção, e depois de sair do banco de areia em uma jangada, peguei a poeirenta estrada de areia até a praia. O legal é que eu andei 3 km e um bugueiro me ofereceu carona até Jeri, foi bem legal e mais rápido do que eu imaginava.
Quando voltei, resolvi subir até a Duna do Pôr-do-Sol ver o danado do fenômeno, que aqui é muito lindo. Encontrei de novo o casal de amigos montanhistas Rodrigo e Roberta, e ali ficamos até o fim do crepúsculo. Ao final, todos batem palmas, é tradição em Jeri, e realmente muito justo, porque ali é especial.
Nesta noite eu e o casal R fomos a uma pizzaria que tinha musica ao vivo, bem legal.
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Árvore torta, pelo vento constante que não pára em Jeri |
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Às margens da Lagoa Azul, esperando a jangada para ir até uma ilha de areia branca, no meio dela |
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Lagoa Azul: águas cristalinas, caribenhas, fantásticas! |
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Só tirando onda na Lagoa Azul |
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A jangada que me trouxe da ilha de areia. Agora, era caminhar muito até Jeri, ou descolar carona! |
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Pois é, eu consegui carona! |
Jericoacoara – 4º dia (18/9)
Dia seguinte, céu azul, e eu decidido a fazer um trekking. Resolvi
tentar inventar um caminho: chegar à vila do Guriú, mas passando por um povoado
chamado Mangue Seco. E lá fui eu.
A caminhada pela praia até Guriú é de 9 km, mas pelo vilarejo seria
de 14 km.
O sol escaldante e o vento incansável, que trazia areia e fazia doer as minhas
pernas, eram desgastantes. Logo cheguei a uma placa, que indicava Mangue Seco a
1,5 km.
Percebi que estava chegando aos limites do Parque Nacional. Minhas suspeitas se
confirmaram quando cruzei com uma guarita do ICMBio (vazia, claro) e uma placa,
no sentido no contrário do qual eu vinha, explicava sobre a unidade de
conservação. Ali pude ver que estava no caminho certo, e mais perto do que eu
supunha. Segui, entrando por uma região de mangue, e passei por uma ponte de
madeira, onde pude avistar alguns queixadas (porcos do mato) chafurdando na
lama escura. Continuei seguindo, pegando infos aqui e acolá, até que cheguei a
uma vila, com um canal à frente. Ia atravessar, quando um morador me alertou da
profundidade excessiva ali. As pessoas atravessam a nado, mas eu estava com
mochila de ataque, e não queria molhar meus documentos (não estavam isolados).
Procurei alguém para atravessar com canoa, mas não havia ninguém ali. Um pouco
frustrado, e faltando um quilômetro segundo o morador, desisti da travessia.
Voltei pela praia para Jeri.
Fiquei um tempo observando a galera do kite surf e suas
manobras aéreas, me deu
vontade de fazer um curso. Perguntei para um dos caras ali quanto custava o
curso, ou algumas aulas, e ele me disse que em torno de R$ 800. Fica para a
próxima...
Já em Jeri, voltei para a pousada e fui descansar um pouco. Amanhã
estarei indo embora.
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Dunas brancas, muito vento e sol, muito sol! |
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Meu objetivo era ir para Mangue Seco |
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Embaixo dessa ponte havia uma vara (coletivo de porcos) de queixadas, chafurdando na lama. |
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Um pássaro se refrescando |
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Placa bem didática... |
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Essa placa aqui é show! Por ela dá pra perceber que eu estava bem próximo de Guriú! |
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Guarita vazia no Parque Nacional de Jeri |
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Voltando da tentaiva de trekking, me deparei com a galera do kite surf treinando. Vento é o que não falta aqui! |
Jericoacoara – 5º dia (19/9)
Acordei cedo, já sabia que o guia da agencia passaria logo pela
manhã para realizar o tal passeio final, a Lagoa do Paraíso. Às 11h15 o guia
passou na pousada em que eu estava. Me despedi dos donos, gente finíssima, e
entrei na D20 que nos levou (eu e mais uma turma que foi pega na Rua do Forró)
para a Lagoa do Paraíso. O lugar
é incrível, é a mesma
lagoa que em outro lugar é chamada de Azul (e que eu havia estado dois dias
antes), só que recebe este nome por estar dentro de uma área particular. Fiquei
ali de bobeira, comendo peixe e tomando uma gelada, desfrutando daquela
paisagem deslumbrante. Às 13h chegou o nosso transporte, que nos levaria até
Jijoca, e dali até Fortaleza. Minha trip pelo Parque Nacional de Jericoacoara
terminava ali, entre dunas e lagoas, caminhadas e mergulhos, pores-do-sol
espetaculares e a sensação de ter conhecido um cantinho muito especial neste
Brasil.
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Chegando à Lagoa do Paraíso: de encher os olhos |
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As redes ficam dentro dagua, para relaxar mesmo |
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Puta visual. Um final de trip muito digno! |
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Tem um tablado para tomar sol |
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Aquele almoço show para fechar com chave de ouro |
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Eu volto! |