sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Parque Nacional de Jericoacoara: trekking, sol e diversão - Set/11


De Fortaleza a Jeri (15/9)

Jericoacoara, ou simplesmente Jeri, é um daqueles lugares que você começa a ouvir desde muito cedo quando o assunto é beleza cênica e praias paradisíacas. Desde que foi eleita, há alguns anos atrás, como uma das dez praias mais encantadoras do mundo por um jornal norte-americano, esta pacata vila de pescadores deixou a tranqüilidade de lado para se tornar seguramente o local turístico mais conhecido do Estado do Ceará. Fui para lá para checar como andam as coisas, e para cumprir mais uma etapa do meu projeto de visitar todos os parques nacionais do Brasil (sim, Jeri é um parque nacional!).

 Acordei por volta das 4h40 da manhã, tomei uma ducha e peguei a “topic” para Fortaleza (R$ 3,50). Ás 6h00 já estava no centro de Fortaleza, a essa hora totalmente vazio não fosse a presença de poucos  ambulantes montando suas barracas e as tradicionais almas perdidas que todo centro de cidade grande abriga.

No dia anterior havia comprado um pacote no Mercado Central, que me dava o direito de transporte e três dias de hospedagem. Era a opção mais barata, depois de exaustivos estudos da minha parte, e acabei pagando R$ 250. Minha ideia era ficar mais dois dias por minha conta, e fazer uma exploração mais ao meu estilo, ou seja, totalmente off turismo convencional.

Fui até o Mercado Central, ponto de encontro que a operadora determinou, e resolvi tomar um café. O Mercado estava fechado ainda, e o movimento na parte de fora era intenso, com uma feirinha de ambulantes lotada de gente. Saí caminhando descendo a avenida, e foi aí que encontrei um daqueles lugares pitorescos que só viajantes livres se permitem. O lugar é o Bar da Lôra. A “lôra” em questão é a dona do bar, uma mulher simpática e muito divertida. Além do bom papo, faz um pão com ovo frito divino. O bar estava lotado, principalmente pela galera da feirinha da madrugada que eu havia passado havia pouco, onde você pode encontrar de tudo. É um exercício de observação acompanhar esse comércio alucinado que rola nas primeiras horas da manhã naquele local.

O microônibus da empresa chegou ás 9h00. Isso significa dizer que o cansaço me pegou  assim que subi a bordo.  A viagem total durou cinco horas, com uma parada para “hidratação” (o calor lá chega a ser desumano, mesmo com ar condicionado). Temos um guia que parece ser gente boa, chamado Roberto.

Chegamos a Jijoca e tivemos esperar um pouco ali até a caminhonete D20 chegar para finalizar nossa ida a Jericoacoara. Praticamente impossível chegar lá com outro veículo que não um 4x4. O caminho entre Jijoca e Jeri é algo difícil de esquecer: dunas e mais dunas entremeadas por pequenas lagoas de água verde. A mesma topografia e composição cênica dos Lençóis Maranhenses (MA) que, aliás, não estão tão distantes daqui.

Chegando a Jeri definitivamente, fui acomodado na Pousada Rosas dos Ventos (Travessa Ricardo, 202. Tel.: 88 3669 2092), muito aconchegante, e depois de uma chuveirada gelada que aliviou muito pouco o calor escaldante, fui almoçar no restaurante Sabor da Terra (Rua Principal), por indicação quase obrigatória do guia Roberto. Dei uma chance e não me arrependi: comi um peixe incrivelmente saboroso lá.

Na seqüência resolvi dar um rolê, aproveitar que estava um pouco mais fresco, e também para tirar esse cansaço do corpo. Resolvi ir até um monumento muito conhecido aqui, a famosa Pedra Furada, marco do Parque Nacional de Jericoacoara. Quando me dirigia para a trilha que me levaria até lá acabei encontrando um casal montanhista amigo meu, Rodrigo e Roberta. O mundo é pequeno mesmo...

Fui caminhando até a Pedra Furada, um caminho entre morrotes e areia da praia. Em meia hora cheguei lá, e já havia algumas pessoas fazendo fotos. É tipo um arco natural, erodido pelas ondas, interessante se olhado mais de cima do morro, como eu fiz. Aproveitei e fiz algumas fotos do horizonte ao sul e ao norte, além do pôr-do-sol espetacular, um dos mais bonitos que eu já acompanhei.

Na volta à vila me dediquei aos esportes etílicos, afinal de contas o calor por aqui é constante, mesmo à noite.

Amanhã tem mais.

Dicas: Ir pelo esquema independente para Jeri te obriga a pagar um preço alto por isso, além de ser praticamente impossível você fazer sozinho de Jijoca a Jeri. A pé são 18 km de distancia, de carro comum é atolar na certa. Contratando um pacote básico você consegue economizar bem. Poucas vezes vi vantagem em contratar um pacote como em Jeri...


Explicando Jeri

Capela na vila

Barcos, mar, ventos e duna: isso é Jeri

Subindo a duna para ver o pôr-do-sol. É tradição

Galera vendo o pôr-do-sol


Indo em direção à Pedra Furada, ícone do Parque Nacional de Jericoacoara

Placa: sim, Jeri é um parque nacional

Pedra Furada. Legal.

Pedra Furada

Pedra Furada vista do alto


Jericoacoara – 2º dia (16/9)

No dia seguinte, resolvi fazer um passeio de bugue e conhecer alguns locais mais distante, como a Lagoa da Tatajuba. Para isso contratei com o próprio  guia Roberto esse passeio. Por volta das 9h00 saí da pousada e fui pego pelo piloto do buguinho, um rapaz meio marrento cujo nome não me recordo (não anotei). Junto comigo vieram um casal paraense, ambos médicos. Gente muito boa.

A primeira parada foi ás margens do Rio Guriú. Ali havia um tal observação de cavalos marinhos na região do mangue, aquele tipo de passeio bem pra turista bobinho, e que ainda impacta a natureza, já que o bichinho é pego numa garrafa. Era demais para mim, e graças a Deus , para o casal paraense também. Resolvemos seguir em frente.

Passamos então a ir em direção ao que restou da vila de Tatajuba. O piloto parou em um casebre, onde paramos para comprar uma água, ou algo que o valha. Foi nesse local que rolou uma apresentação insólita, um resumo do que aconteceu com a vila de Tatajuba original, engolida pelas areias. Uma história de mais de três décadas contada em dois minutos, em velocidade máxima por uma senhora, a dona do tal casebre. É muito curioso e engraçado.

No meio do caminho, apareciam várias lagoas de água doce no meio das dunas. Em muitas vezes eu me imaginei nos Lençois Maranhenses, uma paisagem realmente muito bonita.

Finalmente chegamos à Lagoa da Tatajuba. Bonita, com um vento que não para um instante, é basicamente uma base para colocar os turistas e  mantê-los ali, comprando, bebendo e comendo. Como eu tinha desligado meu modo viajante descolado, resolvi relaxar e pagar de turista mesmo. Ficamos eu e o casal paraense tomando umas lá, e batendo papo. Ficamos lá tempo suficiente, na visão do guia, ou seja, quando ele ficou de saco cheio, nos chamou para irmos embora. Mas valeu muito a pena, o local é legal e a comida estava boa.

Voltei para a pousada e dei uma descansada, a noite me dediquei um pouco mais ao nobre esporte etílico, e ao contato social que isso provoca. A cerveja é a melhor amiga do homem.


Cruzando o Rio Guriú
Casebre na aldeia de Tatajuba. A aldeia foi engolida pelas areias

Uma das lagoas da região de Tatajuba

Lagoa de Tatajuba

Jericoacoara – 3º dia (17/9)
Neste dia, pelo contrato com a operadora, eu deveria ter ido embora. Faria um passeio pela manhã, almoço e depois seguiria para Fortaleza. Mas fiz um acerto com o guia Roberto e ficou fechado que eu pegaria o micro daqui a dois dias. Paguei a pousada por fora (mais R$ 120) e estava definido: mais dois dias em Jeri.
Fui com o grupo (que eu havia vindo desde Fortaleza) até a Lagoa Azul, um lugar difícil de descrever sem comparar com o Caribe, ou algum lugar de águas cristalinas. No meio dessa lagoa existe  um banco de areia branca, que é usado como base para o bar molhado. Os preços são turísticos, mas tudo bem, afinal eu estou nessa, não?
Estava muito agradável ali, eu realmente estava curtindo. E o melhor, não precisava ir embora, como os colegas de viagem. Quando o guia chamou (eram 13h00, absurdo!) o pessoal foi meio amuado. Eu sorri. Dentro desse esquema, eu estava com uma certa mobilidade. Beleza!
Fiquei ali curtindo mais algumas horas, e hordas de turistas vinham e iam. Lá pelas 16h00 resolvi voltar. Já sabia que teria de me virar para voltar a Jeri. Estava a cerca de 20 km de lá, mas tinha algumas opções, como cortar caminho pelas dunas e fazer em 10 km, ou pegar carona se chegasse à Praia do Preá (7 km). Escolhi esta última opção, e depois de sair do banco de areia em uma jangada, peguei a poeirenta estrada de areia até a praia. O legal é que eu andei 3 km e um bugueiro me ofereceu carona até Jeri, foi bem legal e mais rápido do que eu imaginava.
Quando voltei, resolvi subir até a Duna do Pôr-do-Sol ver o danado do fenômeno, que aqui é muito lindo. Encontrei de novo o casal de amigos montanhistas Rodrigo e Roberta, e ali ficamos até o fim do crepúsculo. Ao final, todos batem palmas, é tradição em Jeri, e realmente muito justo, porque ali é especial.
Nesta noite eu e o casal R fomos a uma pizzaria que tinha musica ao vivo, bem legal.

Árvore torta, pelo vento constante que não pára em Jeri

Às margens da Lagoa Azul, esperando a jangada para ir até uma ilha de areia branca, no meio dela

Lagoa Azul: águas cristalinas, caribenhas, fantásticas!

Só tirando onda na Lagoa Azul

A jangada que me trouxe da ilha de areia. Agora, era caminhar muito até Jeri, ou descolar carona!

Pois é, eu consegui carona!
Jericoacoara – 4º dia (18/9)

Dia seguinte, céu azul, e eu decidido a fazer um trekking. Resolvi tentar inventar um caminho: chegar à vila do Guriú, mas passando por um povoado chamado Mangue Seco. E lá fui eu.

A caminhada pela praia até Guriú é de 9 km, mas pelo vilarejo seria de 14 km. O sol escaldante e o vento incansável, que trazia areia e fazia doer as minhas pernas, eram desgastantes. Logo cheguei a uma placa, que indicava Mangue Seco a 1,5 km. Percebi que estava chegando aos limites do Parque Nacional. Minhas suspeitas se confirmaram quando cruzei com uma guarita do ICMBio (vazia, claro) e uma placa, no sentido no contrário do qual eu vinha, explicava sobre a unidade de conservação. Ali pude ver que estava no caminho certo, e mais perto do que eu supunha. Segui, entrando por uma região de mangue, e passei por uma ponte de madeira, onde pude avistar alguns queixadas (porcos do mato) chafurdando na lama escura. Continuei seguindo, pegando infos aqui e acolá, até que cheguei a uma vila, com um canal à frente. Ia atravessar, quando um morador me alertou da profundidade excessiva ali. As pessoas atravessam a nado, mas eu estava com mochila de ataque, e não queria molhar meus documentos (não estavam isolados). Procurei alguém para atravessar com canoa, mas não havia ninguém ali. Um pouco frustrado, e faltando um quilômetro segundo o morador, desisti da travessia. Voltei pela praia para Jeri.

Fiquei um tempo observando a galera do kite surf e suas manobras  aéreas, me deu vontade de fazer um curso. Perguntei para um dos caras ali quanto custava o curso, ou algumas aulas, e ele me disse que em torno de R$ 800. Fica para a próxima...

Já em Jeri, voltei para a pousada e fui descansar um pouco. Amanhã estarei indo embora.


Dunas brancas, muito vento e sol, muito sol!

Meu objetivo era ir para Mangue Seco

Embaixo dessa ponte havia uma vara (coletivo de porcos) de queixadas, chafurdando na lama. 

Um pássaro se refrescando

Placa bem didática...

Essa placa aqui é show! Por ela dá pra perceber que eu estava bem próximo de Guriú!

Guarita vazia no Parque Nacional de Jeri

Voltando da tentaiva de trekking, me deparei com a galera do kite surf treinando. Vento é o que não falta aqui!
Jericoacoara – 5º dia (19/9)

Acordei cedo, já sabia que o guia da agencia passaria logo pela manhã para realizar o tal passeio final, a Lagoa do Paraíso. Às 11h15 o guia passou na pousada em que eu estava. Me despedi dos donos, gente finíssima, e entrei na D20 que nos levou (eu e mais uma turma que foi pega na Rua do Forró) para a Lagoa do Paraíso. O lugar é incrível, é a mesma lagoa que em outro lugar é chamada de Azul (e que eu havia estado dois dias antes), só que recebe este nome por estar dentro de uma área particular. Fiquei ali de bobeira, comendo peixe e tomando uma gelada, desfrutando daquela paisagem deslumbrante. Às 13h chegou o nosso transporte, que nos levaria até Jijoca, e dali até Fortaleza. Minha trip pelo Parque Nacional de Jericoacoara terminava ali, entre dunas e lagoas, caminhadas e mergulhos, pores-do-sol espetaculares e a sensação de ter conhecido um cantinho muito especial neste Brasil.


Chegando à Lagoa do Paraíso: de encher os olhos

As redes ficam dentro dagua, para relaxar mesmo

Puta visual. Um final de trip muito digno!

Tem um tablado para tomar sol

Aquele almoço show para fechar com chave de ouro

Eu volto!

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