Fortaleza a Ubajara
Acordei decidido a pegar o ônibus
mais rápido possível para a rodoviária de Fortaleza, afim de comprar a passagem
rumo á Ubajara (CE), cidade-sede do Parque Nacional do Ubajara. Desde que
cheguei a Fortaleza, estava ansioso por isso.
Já na rodoviária, procurei pela
empresa Guanabara. A passagem custa R$34,92, que o atendente obviamente
arredondou para $35. O guichê da companhia é cheio de frescuras tecnológicas,
mas o essencial (água disponível no ônibus para os passageiros, por exemplo)
falta. Incrível. Comprei para as 12h30.
A viagem dura, na estimativa,
seis horas, para cobrir 437 km; na realidade a viagem chega a durar quase 8
horas, devido principalmente ao péssimo estado da estrada (BR 222) até a cidade
de Sobral (CE).
Algumas linhas aqui para a minha
percepção sobre o povo cearense: meio desconfiados no primeiro contato, logo se
abrem em simpatia e conversa animada. Tive muitas experiências assim, contatos
calorosos. Mas algumas coisas me chamaram atenção: a quantidade de sujeira e a
falta de preocupação em se destinar o lixo para locais corretos; a obsessão por
todo tipo de violência, nas conversas ou em programas de tv; e a cultura da
miséria, esse estado de espírito que deixa as pessoas com um olhar vazio. Vi
muito disso por aqui.
Parada rápida em Itapajé (CE). Ao
descer do ônibus, uma lufada de ar escaldante, em contraponto ao ar
condicionado geladinho do ônibus, me deixou esperto. Vendedores ambulantes, um
ceguinho na porta do bus pedindo dinheiro, e no horizonte, vários morros que
compunham uma serra.
Depois de Sobral, a paisagem se
torna de um verde exuberante, e o horizonte recortado de montanhas. A
estrada também se torna melhor também.
Desembarquei em Ubajara ás 19h40.
Cansado, entrei no Hotel Paraíso (R. Juvêncio Luis Pereira, 504 tel.:
88 3634 1913), $35 por um apartamento. Depois de um banho, fui procurar algum
lugar para comer. Ubajara tem muita gente jovem, e uma quantidade enorme e
barulhenta de motos. Amanhã, o parque.
Caminhando no Ubajara
Acordei ás 6h30, disposto a seguir
para o parque o quanto antes. A manhã surgiu um pouco nublada, e isso me trouxe
alguma preocupação.
Depois de um café da manhã com
direito até a tapioca, fui em direção ao parque. Do centro até a entrada do
parque são quase 4 km. Resolvi fazer a pé esse trecho, mas penso que pegar um
moto táxi (por R$3) seja a melhor opção a seguir, já que o caminho não tem
nenhuma grande atração, além de casas milionárias.
Na entrada do parque me deparei
com uma portaria bem estruturada, bonita. Conversei com um rapaz do PrevFogo do
parque, de nome Gilberto, que me passou o recado: em parque administrado pelo
ICMBio (Instituto Chico Mendes) só se anda acompanhado com guia. Fiquei meio
azedo.
Segui mais 300m adiante, até
encontrar o centro de visitantes, e os guias. Meus argumentos não foram bem
aceitos, não teve jeito: tive de pagar os R$4 para ter um guia “exclusivo” para
mim. Ok, que seja então. Por sorte, o guia designado, Daniel, era gente boa.
Bom conhecedor das trilhas do Ubajara.
A trilha em si consiste em três
circuitos, que juntos formam um só, num total de 7,5 km. Escolhi fazer esse
completão.
Comecei na Trilha da
Samambaia, que leva até uma cachoeira chamada Gameleira, e ao seu
respectivo mirante. Trilha fácil e um mirante lindo. Dele se vê bem a Serra da
Ibiapaba. No caminho, babaçus de todos os tamanhos.
Na sequência, inicia-se outra
trilha, que leva até outra cachu maravilhosa: a do Cafundó. A queda tem
cerca de 70m, muito bonita. O guia me chamou atenção para uma plantinha chamada
trape, cuja tintura alaranjada era usada pelos índios ubajaras que viviam na
região; e um aglomerado de bichinhos que tomavam uma plantinha inteira, fêmeas
de um inseto chamado teté. Na cachu do Cafundó, pude tomar um banho no poço.
Revigorante.
Depois da Cafundó, a parte final da trilha. Começa
uma descida forte por calçamento estilo pé-de-moleque, centenário segundo o
guia. Passamos pela Cafundó, pela parte
de baixo dessa vez, e depois cruzamos um rio chamado das Minas. Nesse
momento faltava pouco para chegarmos até a atração principal do parque: a Gruta
do Ubajara.
Para visitar a gruta, outro guia
assume a monitoria. No meu caso, veio Josemberg. Atento, bom conhecimento.
A gruta está muito deteriorada na
sua entrada, devido a ação, durante anos, de visitantes e romeiros que
frequentavam o local. Muitas pichações, e a falta de espeleotemas nos primeiros
salões denotam claramente essa depredação. Depois da criação do parque, as
agressões pararam, mas o impacto ainda é visível. Luzes amarelas ajudam a
visualizar alguns salões, e os guinchados dos morcegos deixam a caverna “viva”.
O odor da urina e fezes dos morcegos, algo meio ferroso, as vezes é incômodo.
Mas cavernas sempre me causam espantam... e paz.
Para finalizar, faltava pegar o
bondinho. A gruta fica na parte baixa do parque; o bondinho te leva para a
parte alta, onde fica o centro de visitantes e o início das trilhas. É a
maneira rápida de fazer isso. Em 3min, você alça os 550m que separam as duas
partes. Claro, existe um custo para isso: R$4.
Já na parte alta, aproveitei para
tomar uma água de côco. O dono da lanchonete estava fechando o estabelecimento,
e acabou me oferecendo carona.
Apesar da obrigatoriedade de
guias, aproveitei bastante. Compreendo que o parque precise se preocupar com a
preservação, mas percebi também uma certa intolerância no que diz respeito á
possibilidade de um montanhista consciente andar sozinho por lá. O ICMBio
nivela tudo por baixo, ou seja, qualquer um que por lá chegue é tratado como
potencial causador de danos. E isso é uma postura que eu pessoalmente sou
contra. Mas mesmo assim, considero o parque um dos melhores que eu já visitei.
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