domingo, 26 de agosto de 2012

Parque Nacional do Ubajara (CE) - (Set/09)


Fortaleza a Ubajara

Acordei decidido a pegar o ônibus mais rápido possível para a rodoviária de Fortaleza, afim de comprar a passagem rumo á Ubajara (CE), cidade-sede do Parque Nacional do Ubajara. Desde que cheguei a Fortaleza, estava ansioso por isso.
Já na rodoviária, procurei pela empresa Guanabara. A passagem custa R$34,92, que o atendente obviamente arredondou para $35. O guichê da companhia é cheio de frescuras tecnológicas, mas o essencial (água disponível no ônibus para os passageiros, por exemplo) falta. Incrível. Comprei para as 12h30.
A viagem dura, na estimativa, seis horas, para cobrir 437 km; na realidade a viagem chega a durar quase 8 horas, devido principalmente ao péssimo estado da estrada (BR 222) até a cidade de Sobral (CE).
Algumas linhas aqui para a minha percepção sobre o povo cearense: meio desconfiados no primeiro contato, logo se abrem em simpatia e conversa animada. Tive muitas experiências assim, contatos calorosos. Mas algumas coisas me chamaram atenção: a quantidade de sujeira e a falta de preocupação em se destinar o lixo para locais corretos; a obsessão por todo tipo de violência, nas conversas ou em programas de tv; e a cultura da miséria, esse estado de espírito que deixa as pessoas com um olhar vazio. Vi muito disso por aqui.
Parada rápida em Itapajé (CE). Ao descer do ônibus, uma lufada de ar escaldante, em contraponto ao ar condicionado geladinho do ônibus, me deixou esperto. Vendedores ambulantes, um ceguinho na porta do bus pedindo dinheiro, e no horizonte, vários morros que compunham uma serra.
Depois de Sobral, a paisagem se torna de um verde exuberante, e o horizonte recortado de montanhas. A estrada também se torna melhor também.
Desembarquei em Ubajara ás 19h40. Cansado, entrei no Hotel Paraíso (R. Juvêncio Luis Pereira, 504 tel.: 88 3634 1913), $35 por um apartamento. Depois de um banho, fui procurar algum lugar para comer. Ubajara tem muita gente jovem, e uma quantidade enorme e barulhenta de motos. Amanhã, o parque.

Caminhando no Ubajara

Acordei ás 6h30, disposto a seguir para o parque o quanto antes. A manhã surgiu um pouco nublada, e isso me trouxe alguma preocupação.
Depois de um café da manhã com direito até a tapioca, fui em direção ao parque. Do centro até a entrada do parque são quase 4 km. Resolvi fazer a pé esse trecho, mas penso que pegar um moto táxi (por R$3) seja a melhor opção a seguir, já que o caminho não tem nenhuma grande atração, além de casas milionárias.
Na entrada do parque me deparei com uma portaria bem estruturada, bonita. Conversei com um rapaz do PrevFogo do parque, de nome Gilberto, que me passou o recado: em parque administrado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes) só se anda acompanhado com guia. Fiquei meio azedo.
Segui mais 300m adiante, até encontrar o centro de visitantes, e os guias. Meus argumentos não foram bem aceitos, não teve jeito: tive de pagar os R$4 para ter um guia “exclusivo” para mim. Ok, que seja então. Por sorte, o guia designado, Daniel, era gente boa. Bom conhecedor das trilhas do Ubajara.
A trilha em si consiste em três circuitos, que juntos formam um só, num total de 7,5 km. Escolhi fazer esse completão.
Comecei na Trilha da Samambaia, que leva até uma cachoeira chamada Gameleira, e ao seu respectivo mirante. Trilha fácil e um mirante lindo. Dele se vê bem a Serra da Ibiapaba. No caminho, babaçus de todos os tamanhos.
Na sequência, inicia-se outra trilha, que leva até outra cachu maravilhosa: a do Cafundó. A queda tem cerca de 70m, muito bonita. O guia me chamou atenção para uma plantinha chamada trape, cuja tintura alaranjada era usada pelos índios ubajaras que viviam na região; e um aglomerado de bichinhos que tomavam uma plantinha inteira, fêmeas de um inseto chamado teté. Na cachu do Cafundó, pude tomar um banho no poço. Revigorante.
Depois  da Cafundó, a parte final da trilha. Começa uma descida forte por calçamento estilo pé-de-moleque, centenário segundo o guia. Passamos pela  Cafundó, pela parte de baixo dessa vez, e depois cruzamos um rio chamado das Minas. Nesse momento faltava pouco para chegarmos até a atração principal do parque: a Gruta do Ubajara.
Para visitar a gruta, outro guia assume a monitoria. No meu caso, veio Josemberg.  Atento, bom conhecimento.
A gruta está muito deteriorada na sua entrada, devido a ação, durante anos, de visitantes e romeiros que frequentavam o local. Muitas pichações, e a falta de espeleotemas nos primeiros salões denotam claramente essa depredação. Depois da criação do parque, as agressões pararam, mas o impacto ainda é visível. Luzes amarelas ajudam a visualizar alguns salões, e os guinchados dos morcegos deixam a caverna “viva”. O odor da urina e fezes dos morcegos, algo meio ferroso, as vezes é incômodo. Mas cavernas sempre me causam espantam... e paz.
Para finalizar, faltava pegar o bondinho. A gruta fica na parte baixa do parque; o bondinho te leva para a parte alta, onde fica o centro de visitantes e o início das trilhas. É a maneira rápida de fazer isso. Em 3min, você alça os 550m que separam as duas partes. Claro, existe um custo para isso: R$4.
Já na parte alta, aproveitei para tomar uma água de côco. O dono da lanchonete estava fechando o estabelecimento, e acabou me oferecendo carona.
Apesar da obrigatoriedade de guias, aproveitei bastante. Compreendo que o parque precise se preocupar com a preservação, mas percebi também uma certa intolerância no que diz respeito á possibilidade de um montanhista consciente andar sozinho por lá. O ICMBio nivela tudo por baixo, ou seja, qualquer um que por lá chegue é tratado como potencial causador de danos. E isso é uma postura que eu pessoalmente sou contra. Mas mesmo assim, considero o parque um dos melhores que eu já visitei. 

Nenhum comentário: